Fundação
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Centro
de Ciências Exatas e Tecnologia
Programa
de Pós-graduação – Mestrado em Química
Nathália
Rodrigues de Almeida
Orientador:
Prof. Dr.Adilson Beatriz
Co-orientador:
Eduardo José de Arruda (UFGD)
Campo
Grande – 2013
INTRODUÇÃO
Os ácidos
graxos são moléculas encontradas naturalmente na forma esterificada com o
glicerol. Estas moléculas são os principais constituintes dos óleos e gorduras.
A exploração industrial dos óleos e gorduras, tanto para os alimentos e
produtos oleoquímicos, baseia-se na modificação química dos grupos carbonila
(C=O) e das cadeias insaturadas (C=C) presentes nos ácidos graxos (Figura 1).
A cadeia alquílica do ácido graxo é susceptível a oxidação nas ligações duplas
carbono-carbono. A oxidação dessas ligações é utilizada para clivar cadeias
alquílicas ou para introduzir funcionalidade adicional ao longo da cadeia
(SHARIDI, 2005).
Figura 1:
Sítios para modificação química na molécula de triaciglicerol - grupos
carbonila
(C=O) e das cadeias insaturadas (C=C).
Um
importante exemplo que tem sido descrito na literatura envolve oxidação de
ligações duplas utilizando reações de ozonólise, um método muito efetivo, no
qual o ozônio reage completamente com o material de partida (PRYDE, 1960).
Os
produtos da reação de ozonólise podem ou não conter oxigênio ativo, ou seja,
grupos funcionais peroxídicos no qual são capazes de oxidar o íon iodeto a iodo
(BAILEY, 1978). O ozônio reage com as ligações duplas dos ácidos graxos
presentes nos óleos vegetais, formando ozonídeos e compostos peroxídicos
responsáveis pela atividade antimicrobiana e propriedades estimulantes de
regeneração e reparo do tecido (ZANARDI et al., 2008).
As
propriedades antimicrobianas de derivados do ozônio como os óleos vegetais
ozonizados representam grande interesse farmacêutico para o tratamento de
patologias dermatológicas, como infecções de pele, úlceras, feridas crônicas,
entre outras (VALACCHI et al., 2005).
A pele é
o maior órgão do corpo, indispensável para a vida humana e fundamental para o
perfeito funcionamento fisiológico do organismo. Como qualquer outro órgão,
fatores patológicos podem causar o desenvolvimento de alterações na sua
constituição como, por exemplo, as úlceras de pele, podendo levar à sua
incapacidade funcional (MORAIS et al., 2008).
1.1.
Feridas crônicas e úlceras de pele
Acredita-se
que cerca de 3% da população brasileira é portadora de feridas crônicas nos
membros inferiores e que aproximadamente 4 milhões de pessoas sejam portadoras
de lesões crônicas ou tenham algum tipo de complicação no processo de
cicatrização (OLIVEIRA, 2007; MANDELBAUM et al, 2003 b). No
Brasil, as feridas acometem grande parte da população, constituindo assim, um
sério problema de saúde pública. Embora sejam escassos os registros de
atendimentos a pacientes portadores de feridas, o elevado número de portadores
contribui para onerar o gasto público, além de interferir na qualidade de vida
da população (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).
As
feridas comprometem a qualidade de vida de seus portadores podendo ocasionar
dor, inclusive severa e contínua, odor, dificuldade ou incapacidade de
locomoção, baixa autoestima, nervosismo, medo, depressão, isolamento social,
dependência física, alteração da autoimagem, entre outras (OLIVEIRA,
2007).
De acordo
com a sua duração, podem ser classificadas em crônicas, agudas e
pós-operatórias. As feridas crônicas são de longa duração ou de decorrência
frequente, como úlceras por pressão e úlceras venosas e arteriais.
As
feridas agudas são as do tipo traumáticas, como cortes, abrasões, queimaduras,
entre outras. Essas lesões geralmente respondem rápido ao tratamento e
cicatrizam sem complicações. As feridas pós-operatórias são causadas
intencionalmente, podendo cicatrizar por primeira intenção, caso as bordas
sejam mantidas próximas, ou por segunda intenção caso necessitem, por exemplo,
de drenagem de material (OLIVEIRA, 2007).
As
feridas podem ter diversas causas, como trauma (mecânico, físico e químico),
intencional (cirurgias), isquemia (úlcera arterial de membros inferiores) e
pressão (úlceras de decúbito) (MANDELBAUM et al., 2003 a).
Entre os
diversos tipos de lesões, as mais freqüentemente encontradas nos serviços da
rede básica de saúde são as úlceras venosas, as arteriais, as hipertensivas, as
de pressão e as neurotróficas, comuns em algumas patologias que acometem o
sistema nervoso periférico, como a hanseníase, o alcoolismo e o diabetes Mellitus
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).
Cerca de 6%
das internações hospitalares relacionadas aos diabéticos são em consequência de
úlceras nos membros inferiores. A úlcera é uma das
complicações mais devastadoras do Diabetes Mellitus, sendo
responsável por 50 a 70%
das amputações não traumáticas, além de concorrer por 50% das internações
hospitalares (TOSCANO & MENGUE, 2004).
Os custos
dos tratamentos de patologias relacionadas à deficiência no processo de
cicatrização aumentam a importância dos estudos em busca de medicamentos e
curativos capazes de interagir com o tecido lesado, tendo por objetivo acelerar
o processo de cicatrização (MENDONCA & COUTINHONETTO, 2009).
A
cicatrização de feridas é um processo complexo que envolve a organização de
células, sinais químicos e matriz extracelular com o objetivo de reparar o
tecido lesado (MENDONCA & COUTINHO-NETTO, 2009). Diferentes
classificações didáticas são utilizadas para facilitar o
entendimento do processo. Alguns autores
discorrem sobre cinco fases: coagulação, inflamação, reconstrução
ou proliferação, epitelização e maturação ou remodelação
(MANDELBAUM
et al., 2003 a).
A fase de
coagulação inicia imediatamente após o surgimento da ferida, depende da
atividade plaquetária e da cascata de coagulação. Ocorre uma complexa liberação
de substâncias vasoativas, proteínas adesivas, fatores decrescimento e
proteases (MANDELBAUM et al., 2003a).
Intimamente
ligada à fase anterior, a fase inflamatória depende, além de inúmeros
mediadores químicos, das células inflamatórias, como os leucócitos
polimorfonucleares (PMN) responsáveis pela fagocitose das bactérias e os
macrófagos (MANDELBAUM et al., 2003 a). O macrófago é a principal célula
do processo de reparo tecidual, responsável pela degradação e remoção de
componentes do tecido conjuntivo danificado, como colágeno, elastina e
proteoglicanas (MENDONCA & COUTINHO-NETTO, 2009). Além
dessas funções, as células inflamatórias produzem fatores de crescimento, que preparam
a ferida para a fase proliferativa, fase em que os fibroblastos e células
endoteliais também serão recrutados (SINGER & CLARK, 1999).
Dividida
em três subfases, a proliferação é responsável pelo "fechamento"
da lesão propriamente dita. A primeira das subfases da proliferação é a
re-epitelização, onde ocorre a movimentação das células epiteliais oriundas
tanto da margem como de apêndices epidérmicos localizados no centro da lesão;
os fibroblastos produzem a nova matriz extracelular necessária ao crescimento celular
enquanto os novos vasos sanguíneos carreiam oxigênio e nutrientes necessários
ao metabolismo celular local (MENDONCA & COUTINHO-NETTO,
2009; SINGER & CLARK, 1999).
Segundo
Hinman & Maibach (1963) as feridas superficiais abertas e ressecadas
re-epitelizam mais lentamente do que as ocluídas e, portanto, aumentam ou
dificultam o processo de cicatrização.
A segunda
fase da proliferação inclui a fibroplasia e formação da matriz, que é
extremamente importante na formação do tecido de granulação (elementos
celulares, incluindo fibroblastos, células inflamatórias e componentes
neovasculares e da matriz, como a fibronectina, as glicosaminoglicanos
e o colágeno). A formação do tecido de granulação depende do fibroblasto,
célula produtora de colágeno, elastina, fibronectina, glicosaminoglicanos
e proteases, estas responsáveis pelo desbridamento e remodelamento fisiológico
(MANDELBAUM et al., 2003a).
A última
fase da proliferação é a angiogênese, etapa fundamental do processo
de cicatrização, na qual novos vasos sanguíneos são formados a partir de vasos
pré-existentes. Os novos vasos participam da formação do tecido de granulação
provisório e supre de nutrientes e de oxigênio o tecido em crescimento (FOLKMAN
& SHING, 1992; MENDONCA & COUTINHO-NETTO, 2009).
A
epitelização constitui a etapa que levará ao fechamento superficial da ferida,
por meio da multiplicação das células epiteliais da borda (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2002).
A última
das fases da cicatrização, a remodelação, dura
meses e é responsável pelo aumento da força de tensão e pela diminuição do
tamanho da cicatriz e do eritema (MANDELBAUM et al., 2003 a). Nessa fase
do processo de cicatrização o corre uma tentativa de recuperação da estrutura
tecidual normal. Essa fase é marcada por maturação dos elementos e alterações
na matriz extracelular, ocorrendo o deposito de proteoglicanas e colágeno (MENDONCA
& COUTINHO-NETTO, 2009).
O
surgimento de infecção é um dos principais fatores que influenciam o processo
de cicatrização. A infecção prolonga o estágio inflamatório da cicatrização,
pois as células precisam combater grande número de bactérias, além de inibir
também a capacidade dos fibroblastos de produzir colágeno (MANDELBAUM et al., 2003a).
1.2.
Os ácidos graxos e os óleos vegetais
Os ácidos graxos
podem ocorrer na natureza como substâncias livres ou esterificadas. A maior
parte dos ácidos graxos naturais encontra-se esterificada no glicerol formando
os triacligliceróis (TGs), componentes dos óleos e gorduras. Os óleos são
misturas relativamente complexas de TGs e, são os lipídios mais amplamente
distribuídos na natureza (VIANNI & BRAZFILHO, 1996).
Os óleos são
insolúveis em água, solúveis em solventes orgânicos e líquidos à temperatura
ambiente (20 ºC), enquanto as gorduras são sólidas a mesma temperatura
(GIOIELLE, 1996). Essa diferença entre óleos (líquidos) e gorduras (sólidas), à
temperatura ambiente, reside na proporção de grupos acila saturados e
insaturados presentes nas cadeias graxas dos TGs (SHARIDI, 2005).
Com raras
exceções, os ácidos graxos são ácidos monocarboxílicos de cadeia alifática com
número par de átomos de carbono. A maioria possui cadeias de 4 a 22 carbonos,
sendo a cadeia de 18 carbonos a mais comum. Os que ocorrem naturalmente
partilham uma biossíntese em comum, onde a cadeia é construída a partir de
unidade de acetato (2 átomos de carbono) e as ligações duplas cis são inseridas pela enzima dessaturase em posições específicas em relação
ao grupo carbonila (SHARIDI, 2005).
Os ácidos graxos
representam cerca de 95% da massa molecular dos TGs. As
propriedades físicas, químicas e nutricionais dos óleos dependem da natureza,
do número de átomos de carbono e posição dos grupos acila saturados e
insaturados presentes na molécula do TGs (VIANNI & BRAZFILHO, 1996).
Nos ácidos graxos
saturados, os átomos de carbono estão ligados entre si por ligações simples
(ligações _) e nos ácidos graxos insaturados por ligações
simples e duplas (ligações _). Na maioria dos
ácidos graxos insaturados, as ligações duplas estão localizadas na cadeia de
forma não conjugada (sistema 1,4 diênico), frequentemente separadas por um
grupo metileno (_-CH2),
apresentando configuração espacial do tipo cis = Z (VIANNI
& BRAZ-FILHO,
1996).
A configuração cis pode ser convertida no isômero trans durante o processo de rancidez oxidativa
e nas reações de hidrogenação catalítica na presença de níquel ou outro metal
catalítico, geralmente empregada em processos de hidrogenação parcial. O
aquecimento prolongado de óleos vegetais em temperaturas elevadas também induz
a formação de isômeros dos ácidos graxos polinsaturados (VIANNI &
BRAZ-FILHO, 1995; MOREIRA et al., 2002).
No sistema de
nomenclatura oficial da IUPAC, o número de átomos de carbono é indicado por um
prefixo grego. Os ácidos láurico, mirístico, palmítico, esteárico, araquídico e
behênico, possuem 12, 14, 16, 18, 20 e 22 átomos de carbonos, respectivamente e
são designados pelos prefixos dodeca-, tetradeca-,
hexadeca-, octadeca-, eicosa- e docosa-. Os ácidos graxos saturados têm sufixo anóico, e os insaturados tem sufixo enóico. A posição da ligação dupla na cadeia
carbônica é definida por número arábico, atribuindo-se 1 ao carbono da
carbonila. O ácido linoléico, é denominado oficialmente por ácido 9 (Z),12 (Z) -octadecadienóico (VIANNI &
BRAZ-FILHO, 1996). A tabela 1 apresenta a fórmula molecular e a nomenclatura de
alguns ácidos graxos saturados e insaturados.
A estrutura de um
ácido graxo pode também ser indicada mediante uma notação simplificada, na qual
se escreve o número de átomos de carbono seguido de dois pontos e depois um
número que indica quantas ligações duplas estão presentes na molécula. O
linoléico, nesse caso, seria representado por 18:2 ou C18:2 (SHARIDI, 2005;
VIANNI e BRAZ-FILHO, 1996).
A posição das
ligações duplas pode ser indicada de várias formas: definindo a posição e a
configuração, ou localizando as posições das ligações duplas relativas aos
grupos metila e carbonila nas extremidades da cadeia. A posição da ligação
dupla relativa ao grupo metila terminal pode ser representada por n-x ou _-x,
onde x é o número de átomos de carbono a partir do grupo metila. A posição da
primeira ligação dupla a partir do grupo carbonila é designada _x
(SHARIDI, 2005).
Os ácidos graxos
mais abundantes na natureza possuem 16 ou 18 átomos de carbono, estão entre
eles os ácidos palmítico, esteárico, linoléico e oléico. O ácido
oléico constitui em alguns casos mais da metade da composição total de muitos
óleos e gorduras (VIANNI e BRAZ-FILHO, 1996). A tabela 2 apresenta a composição
em ácidos graxos de diferentes óleos vegetais.
Tabela
2: Composição
(%) de ácidos graxos em diferentes óleos vegetais.
Girassol (Helianthus annuus L.), uma das espécies de sementes oleaginosas
mais antigas na América do Norte, pertence à família Asteraceae e ao gênero Helianthus. O óleo de girassol é caracterizado pela
alta concentração de ácido linoléico (48-74%), seguida por ácido oléico
(14-39%), sendo que a concentração de ácido linolênico é sempre baixa, em torno
de 0,3
%. De acordo com
o esperado para óleos com alta concentração de ácido
linoléico, o
principal triacilglicerol é a trilinoleina (36,3%), seguida pela
dilinoleína
(29,1%) e a trioleína praticamente inexistente (0,6%) (GUNSTONE,1994).
De origem
asiática, a linhaça (Linum
usitatissimum L.), que pertence à família das Lináceas, é
uma das herbáceas mais antigas da história da humanidade. Das sementes é
extraído o óleo, que é muito utilizado nas indústrias alimentícias, de tinta e
vernizes, além da indústria cosmética. Esse óleo constitui uma das maiores
fontes de ácido linolênico (18:3) (35 – 60%) e linoléico (18:2) (14 - 29%)
(GUNSTONE, 1994).
O óleo de linhaça
possui uma baixa estabilidade oxidativa, tornando impropria sua utilização como
óleo comestível. No entanto a semente de linhaça é utilizada para melhorar o
valor nutricional dos alimentos como fonte de ácido linolênico (ômega 3). Os
ácidos linolênico e linoléico são precursores dos demais ácidos graxos da
família ômega 3 (_-3) e ômega 6 (_ -6),
respectivamente, e conhecidos como essências, pelo fato do organismo humano não
sintetiza-los, tornando-os indispensáveis, principalmente, pela ingestão de
alimentos que os contém. O óleo possui coloração amarelodourado, marrom ou
âmbar, e deve ser prensado a frio, pois a temperatura é uma variável
determinante para acelerar o processo de oxidação (LOPES, 2009).
O baru (Dipteryx alata Vog.) é uma árvore do cerrado
brasileiro pertencente à família Leguminosae. Sua distribuição é ampla no
Brasil, abrangendo os estados de Góias, Minas Gerais, São Paulo, Tocantins,
Mato Grosso do Sul e
Mato Grosso estendendo-se até a costa atlântica do Maranhão (SANO et al, 2004) Esta espécie produz frutos que
contém uma amêndoa com sabor semelhante ao amendoim. O óleo extraído desta amêndoa possui em sua
composição 50,4% de ácido oléico e 28,9% de ácido linoléico, sendo assim,
importante matéria-prima para as indústrias farmacêuticas e oleoquímicas
(TAKEMOTO, 2001).
Os ácidos graxos
apresentam três funções principais: são componentes estruturais das membranas
biológicas; atuam como precursores de mensageiros intracelulares e são oxidados
gerando energia, na forma de adenosina trifosfato (ATP). Existem diversos tipos
de ácidos graxos, mas se tratando de tratamento de feridas, o ácido linoléico e
o ácido linolênico são os mais importantes, pois não são sintetizados pelos
mamíferos, sendo assim chamados de ácidos graxos essenciais (AGE) (FERREIRA et al., 2012).
Os ácidos graxos
essenciais, o linoléico (_-6 ou n-6) e linolênico
(_- 3ou n-3) são de
extrema importância as para funções celulares normais, e atuam como precursores
para a síntese de ácidos graxos polinsaturados de cadeia longa como os ácidos
araquidônicos (AA), eicosapentaenóico (EPA) e docosa-hexaenóico
(DHA), que fazem parte de numerosas funções celulares como a manutenção da
integridade e fluidez das membranas, atividade das enzimas de membrana e
síntese de eicosanóides como as prostaglandinas, leucotrienos e
tromboxanos (MOREIRA et al,
2002). Essas moléculas são importantes no processo de cicatrização de feridas,
eles possuem capacidade de modificar reações inflamatórias e imunológicas,
alterando funções leucocitárias e acelerando o processo de granulação tecidual
(MANHEZI et al., 2008).
O ácido linoléico
exerce um importante papel quimiotáxico para macrófagos, sendo fundamental na
expressão de componentes do sistema fibrinolítico (regulação da produção de
colagenase); favorece o desbridamento autolítico no
leito da ferida por contribuir com a produção de metaloproteínas, induzindo a
granulação e podendo acelerar o processo de cicatrização.
Estudos
demonstram que o ácido linoléico é capaz de inibir o crescimento de Staphylococcus aureus, alterando as
sínteses de proteínas, parede celular, ácidos nucléicos e membranas celulares
durante a divisão (GREENWAY & DIKE, 1979; MANDELBAUM et al., 2003 b).
O ácido
linolênico é importante no transporte de gorduras, favorece a manutenção da
integridade da barreira de permeabilidade epidérmica e acelera os processos
cicatriciais. Age como importante agente restaurador tecidual por promover
quimiotaxia e angiogênese, pela manutenção do meio úmido e aceleração do processo
de granulação tecidual, ainda, protege a pele contra infecções por Staphylococcus aureus e proporciona a
nutrição celular local MANDELBAUM et al., 2003 b; FERREIRA et al., 2012)
1.3. Ozônio
O ozônio é uma molécula simétrica, possui um átomo de oxigênio na posição central com carga parcial positiva e dois átomos de oxigênio terminais
com
cargas parciais negativas (CLAYDEN, 2007). A Figura 2 apresenta as
estruturas de ressonância da molécula do ozônio.
O ozônio é cerca de cinquenta por cento mais denso que o oxigênio, apresenta-se como um gás incolor e de odor pungente, tem massa molecular igual a 48 u.m.a, liquefaz-se a -112°C
e possui ponto de congelamento de - 251,4°C
(CHIATONNE et al., 2008). O ozônio possui
um alto poder
de oxidação, (E0=2,08 V) quando comparado a outros agentes oxidantes como,
por
exemplo, H2O2 (E0= 1,78V), permitindo que a molécula possa reagir com
uma numerosa classe de compostos (KUNZ et al., 2002).
A molécula do
ozônio
age
como um
dipolo, com
propriedades
eletrofílica e nucleofilica. O ozônio pode reagir com compostos orgânicos via oxidação direta ou com compostos inorgânicos em solução aquosa, onde o
ozônio se decompõe em
água a radical hidroxila (KUNZ et al., 2002; KHADRE et al., 2001). As reações via oxidação direta com ozônio
molecular são seletivas reagindo
apenas com compostos
alifáticos insaturados e
anéis aromáticos (KHADRE & YOUSEF, 2001).
Sua armazenagem é impedida pela sua baixa estabilidade, tornando necessária sua geração in situ. Através de descargas elétricas o oxigênio é dissociado, sendo
a formação
do ozônio
(Figura
3) consequência da
recombinação de espécies radicalares de oxigênio com moléculas de oxigênio presentes no sistema (KUNZ et al., 1998).
Desde a sua descoberta, esse gás despertou grande interesse, sendo
atualmente empregado para as mais diversas finalidades. O ozônio (O3) é um poderoso agente
antimicrobiano, com
grande
potencial
de aplicação
na indústria,
principalmente
alimentícia. A altareatividade, penetrabilidade, decomposição espontânea em
produtos não
tóxicos, como
o oxigênio
molecular (O2), por exemplo, faz do ozônio um desinfetante viável (KIM et al., 2009) . O ozônio está sendo utilizado no tratamento de água residual para
reuso, no tratamento de efluentes, como agente branqueador de compostos orgânicos, na
de
sodorização
de ambientes, em
lavanderias hospitalares reduzindo os
custos em
energia para esterilização, na odontologia e na medicina, sendo sua prática conhecida como Ozonioterapia (CHIATONNE et
al., 2008; BOCCI et al., 2009).
A Ozonioterapia é uma técnica médica, reconhecida em vários países do
mundo (Alemanha,
Itália, França, Portugal, Espanha, Cuba, Estados Unidos, Rússia, China e Japão) que utiliza
o ozônio diluído em corrente de oxigênio puro (O3/O2) como agente terapêutico em
grande
número
de patologias. É considerada uma terapia natural, com poucas contra indicações e
de
efeitos secundários mínimos, se for corretamente realizada (BOCCI, 2005).
O médico alemão Christian Friedrich Schönbein, durante a Primeira Guerra Mundial,
difundiu o ozônio
no tratamento de
feridas
em
soldados
alemães, obtendo
excelentes resultados no controle de infecções, gangrenas e
cicatrizações de feridas infectadas por Clostridium (BOCCI et al., 2009).
O efeito antimicrobiano do ozônio tem sido estudado com uma ampla
variedade de microorganismos, como bactérias gram-positivas e negativas,
esporos e células vegetativas (FETNER& INGOLS, 1956; GUZEL-SEYDIM et
al.,
2004; CHIATONNE
et al., 2008).
Sendo mais efetivo
contra células vegetativas de bactérias do que em esporos ou fungos. Entre as bactérias, as
gram
negativas são
mais
sensíveis
ao ozônio
do que as gram positivas
(KHADRI et al, 2001). A parede
celular
das bactérias gram positivas é constituída por muitas camadas de peptideoglicana, formando uma estrutura
espessa e rígida, em contraste, as
paredes celulares de
gram
negativas contêm somente uma camada fina de peptideoglicana (TORTORA et al, 2005). Segundo Perez et al, 1995, a N-acetil
glucosamina, presente na peptideoglicana, foi resistente à ação do ozônio, em solução aquosa a pH 3 a
7.
O que pode explicar, pelo menos em parte, a maior resistência de bactérias
gram-positivas em relação às gram-negativas.
O mecanismo de ação do ozônio para inativação das bactérias é um
processo complexo, pois o ozônio oxida vários constituintes celulares como
proteínas, lipídios insaturados e enzimas da membrana celular; peptoglicanos da parede celular, enzima e ácidos nucléicos do citoplasma; além de proteínas
e peptoglicanos da capa dos esporos bacterianos e capsídeos virais (KHADRE
& YOUSEF, 2001).
O que diferencia o ozônio de outros agentes biocidas é seu mecanismo de destruição dos microorganismos (Figura 4). Especificamente, o cloro, atua
por difusão através
da parede
celular,
agindo
sobre
os elementos
vitais
localizados no interior da célula, como enzimas, proteínas, DNA e RNA. O
ozônio, por sua vez, age diretamente na parede da célula, causando sua
ruptura e morte em menor tempo de contato, inviabilizando a recuperação dos
microrganismos após oxidação (SNATURAL
TECNOLOGIAS AMBIENTAIS LTDA, 2011).
Figura 4:
Mecanismo de ação do ozônio em bactérias. 1- Bactéria; 2- Parede celular da bactéria sendo atacada pelo Ozônio; 3- Oxidação da parede celular;
4, 5 e 6- Ruptura e destruição da bactéria.
O gás ozônio pode afetar o sistema respiratório e causar sintomas de toxidade, como dor de cabeça, tontura, sensação de queimação na região dos olhos, irritação da garganta e tosse. No entanto, o ozônio é toxico para o
sistema pulmonar durante inalação prolongada na concentração de 0.0002 µg/mL (0.2 ppm)
(BOCCI et
al.,
2009;
GUZEL-SEYDIM
et al., 2004).Um
indivíduo pode detectar o cheiro característico do ozônio em concentrações 0,01 a 0,05ppm (CHIATONNE et al., 2008).
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